quarta-feira, 8 de abril de 2015

Ator José de Abreu: "para ser condenado no Brasil tem que ser preto, pobre, puta e petista"

José De Abreu fala de política e história em entrevista: “Fernando Henrique Cardoso era meu ídolo na época da faculdade, não o Lula”. Sobre partidos políticos, revela: “o DEM acabou e o PSDB está acabando”

Mensalão e o PT

“Eu nunca conversei com o Zé [José Dirceu] a respeito das denúncias. Acho que o PT fez o que sempre se fez. É errado? Sim! Mas fez o que sempre se fez”.
“Por que o PPS apoia o Serra em São Paulo e o Paes/Lula/Dilma no Rio? Qual o sentido disso? Roberto Freire [presidente do PPS] passa 24 horas por dia no Twitter metendo o pau no Lula, chamando de ladrão e de corrupto, e fecha com o Paes aqui, com um vice-candidato a prefeito do PT? É venda de espaço, venda de horário, venda da sigla. Vou ser processado. Já estou sendo processado pelo Gilmar Mendes [ministro do STF, por chamá-lo de corrupto no Twitter]]. Agora, talvez seja processado pelo Freire.” –procurado pela reportagem, Roberto Freire declarou: “Esse ator tem uma ética política que orbitava ao redor do PCB [Partido Comunista Brasileiro]. Agora, ele não tem mais nada disso. Não merece meu respeito nem a minha resposta.”
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Ator José de Abreu interpretou o personagem ‘Nilo’ em ‘Avenida Brasil’. (Foto: Leonardo Wen/Folhapress)

“O Supremo quer mudar a maneira de fazer política no Brasil. Ótimo, maravilha! Óbvio que tinha que começar com o PT. Então, agora para ser condenado no Brasil basta ser preto, puta, pobre e petista.”
    “O grande organizador da base foi o Zé Dirceu. Eu não tenho informação de cocheira para falar. Lendo a imprensa, deu para notar o seguinte. Antes do Lula ser eleito, houve uma reunião dele com o Zé Dirceu dizendo que ele não queria mais concorrer, né? E o Zé o convenceu com a ideia do José de Alencar [ex-vice-presidente] ser vice, de abrir um pouco mais o PT, de fazer coligação etc. Isso tudo foi o Dirceu quem fez não o Lula. Mas se for a história do domínio do fato, tem que prender o Fernando Henrique por comprar a eleição dele, porque tem provas. Agora se fala, eu sei que houve, mas não sei quem fez. O deputado Ronnie Von Santiago [que era do PFL-AC] falou eu ganhou R$ 200 mil para votar a favor da reeleição do Fernando Henrique. Ah, o FHC não sabia? Mas pelo domínio do fato, não saber é como saber. Então se pode enquadrar qualquer um, até o Lula, que sem dúvida nenhuma é o grande objetivo…”
“O PT está virando o Brasil de cabeça para baixo, está colocando uma mulher na presidência, um negro na presidência do STF, tirando 40 milhões da pobreza, fazendo um cara que sai do Bolsa Família, do ProUni, fazer mestrado em Harvard, ter os primeiros lugares do Enem.”
“Como é que um operário sem dedo, semianalfabeto faz isso que nunca fizeram? O nosso querido Fernando Henrique Cardoso, que era a minha literatura de axila na faculdade, que era meu ídolo. Não o Lula. O Lula era da minha geração, o FHC de uma anterior. Fernando Henrique, Florestan Fernandes eram os caras que queria mudar o Brasil. Aí o Fernando Henrique tem a oportunidade e não faz? Vai para a direita? É uma coisa louca. O que aconteceu? O PT e o PSDB nasceram da mesma vértebra. Era para ser um partido só. O que acontece é que chegam ao poder e vendem a alma ao diabo. Fica igual ao que foi feito nos 500 anos. O PT teve o peito de tentar romper, rompeu e está pagando por isso.”
“Eu votei no Fernando Henrique na primeira vez [na eleição de 1993]. Achava que ele era melhor do que o Lula naquela oportunidade. E foi mesmo. O Lula foi melhor depois.”

José Dirceu e a Ditadura Militar

“Conheci o Dirceu quando entrei na faculdade [no curso de direito da PUC-SP], na década de 1960. Eu entrei na faculdade já no pau, tem uma piadinha que eu faço, que quem não era de esquerda não comia ninguém. Porque ser de direita naquela época era ou ser extremamente mau-caráter ou alienado. Alienado era bobão, não sabia nem que existia a ditadura. Eu fui um dos representantes da faculdade na UNE [União Nacional dos Estudantes]. Foi nessa época que eu fiquei mais próximo do Dirceu.”
“Não fui torturado durante a ditadura. Fui preso junto com o Zé Dirceu em Ibiúna, no congresso da UNE,e m 1968. Eu fiquei preso uns dois meses, levei uns tapas na cabeça, quando ia para o Dops [Departamento de Ordem Política e Social] prestar depoimento.”
“A coisa ficou pesada depois do AI-5 [ato institucional que restringiu mais as liberdades civis], eu fui solto dois dias antes, foi a maior sorte. No dia 13 de dezembro, fui na faculdade, no Tuca e o porteiro disse que a polícia tinha ido atrás de mim, de armas. Nunca peguei em armas, fui embora para o Rio, e fiquei prestando apoio logístico para uma organização de esquerda. A única ação que eu fiquei sabendo depois e eu participei foi transportar o dinheiro tirado de um cofre do governador Adhemar de Barros [1901-1969].”
“O meu contato com a organização era um concunhado que foi preso junto com a Dilma, na rua da Consolação. Só tinha duas atitudes, ou entrar na luta armada ou deixar a organização. Minha companheira estava grávida do meu primeiro filho. Conversamos. Eu nunca pensei que poderíamos derrotar as forças armadas. Éramos 500 mil, 600 mil estudantes, tinha operário e militar, mas a grande maioria era estudante classe média.”
“Foi quando eu fui para a Europa, em 1972, para Londres, Amsterdã. Virei místico, fui estudar hinduísmo, filosofia oriental. Fiz ioga, meditação, macrobiótica, fui vegetariano, meditava quatro vezes por dia, vivia numa ilha grega, comendo frugal. Lá tomei ácidos. Muitos com orientação, para fazer pesquisa. Tinha um livro que ensinava. Tinha uma pessoa que brincava com o incenso. O contato foi maravilhoso. Era algo cósmico. No Brasil, enquanto a gente estava gritando paz no Vietnã, nos EUA eles gritavam ‘make love’ [faça amor]. Era a mesma coisa, mas um tinha um lado hippie, lisérgico. A minha geração, alguns amigos ficaram na esquerda, outros fizeram a revolução já hippie. Eu tive o privilégio de fazer parte dos dois lados.”
“Quando voltei ao Brasil anos depois, fui dar aulas em Pelotas, me desliguei dessa parte política e me foquei na arte. Me meti na profissão, fui ter filho e cuidar deles como o John Lennon fez. Limpando a bunda, acordando de madrugada para dar de mamar. Sendo um pai e mãe. Dividindo igualmente tudo e foi lindo.Depois fui para Porto Alegre, comecei a produzir música, levei Gilberto Gil, Rita Lee, Novos Baianos. Montei uma peça do Chico Buarque, ‘Saltimbancos’. Acabei fazendo um filme muito louco, ‘A Intrusa’, ganhei um prêmio em Gramado e a Globo estava lá e me chamou.”

Internet

“Na segunda eleição do Lula, eu tinha um blog e fui muito atacado. Eu estava no Acre, fazendo a minissérie ‘Amazônia’. Aquela eleição já foi muito radicalizada. Eu sou viciado em internet há muito tempo. Fui um dos primeiros atores a ter uma senha do Ministérios das Comunicações. Em 1994, 1995, já usava internet num provedor que o Betinho [Hebert de Souza] tinha por causa do Ibase [Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas]. Eu, o Paulo Betti, o Pedro Paulo Rangel fomos os primeiros atores a usar internet. Eu fiz muito ator comprar computador e ter internet. O mais comum era ouvir ‘não gosto de internet’. Mas no futuro ia ser algo como não gostar de telefone, de liquidificador. O José Mayer me apelidou de Zé Windows.”
“Sou geminiano, gosto de comunicação e cai no Twitter com a história da campanha da Dilma, que foi a primeira campanha em que as redes sociais foram muito usadas.”

Dilma Rousseff

“Não tive contato com a Dilma durante a ditadura. A gente era da mesma organização [VAR-Palmares]. Só se for fazer muita ilação. Não vou dar uma de Joaquim Barbosa…”
“Lula é Dilma e Dilma é Lula. Isso é um mantra, a cumplicidade dos dois é total. Quando o Lula começou com essa história de ter Dilma como candidato, todo mundo assustou. O pessoal do PT mesmo, o Lula pirou, como faz? Nunca tinha acontecido isso, uma pessoa que não tinha ganhado nenhuma eleição ser candidata a presidente.”

Ministério da Cultura e a Política de Cotas

“Eu não sei o que foi aquilo [Ana de Hollanda]. Um dia a gente ainda vai saber o que aconteceu. Depois ferrou, a Dilma é teimosa, não ia tirá-la na pressão. Ela esperou acabar tudo para trocar o ministério. A Ana é esquisita, uma pessoa difícil. Eu fui falar com ela uma vez, foi muito difícil. Quando entrou, batia de frente com o PT inteiro, com os deputados todos que cuidavam da cultura. Achei uma desfaçatez com o ministério da Cultura.”
“Sou a favorzaço de cota em tudo. Nós temos uma dívida. Há quantos anos um negro não podia entrar na faculdade? Podia pela lei, mas não entrava. Não tinha oportunidade igual. Na minha classe, tinha um negro em 50 alunos. Os ricos têm a impressão de que vão roubar deles. Mas o Lula conseguiu mostrar que dá para dividir e eles ganharam mais dinheiro ainda porque entrou muita gente no mercado para comprar coisas. Por mais que a Dilma dê porrada nas montadoras, elas estão amando a presidente.”
“Foi uma surpresa [cota para negros em edital do MinC], eu não li o projeto, mas a rigor, eu acho que o Brasil tem um débito muito grande e se for contar a escravatura, o débito não se paga nunca.”
“Não esperava que o Brasil fosse dar esse salto de assumir que é racista, de o governo assumir que existe racismo, de que existem problemas sérios, de que o brasileiro não é cordial com os seus. O brasileiro sabe explorar seus empregados. Hoje em dia, ter empregada doméstica está cada vez mais difícil. É claro! Quem quer lavar a cueca de um marido que não seja seu. É degradante.”

terça-feira, 7 de abril de 2015

Um lugar recheado de mistério e história


Cercado de muito mistério e, até hoje, motivo de curiosidade para muitos moradores da cidade, o Cemitério Israelita de Cubatão é um grande enigma para ser decifrado. Não pela história das lápides, mas sim pelas histórias de quem dá nome a elas.
A história deste cemitério começou depois da chegada dos primeiros judeus em Santos, que vinham do exterior em busca de emprego e instalação de negócios comerciais.
Em Santos chegaram dois tipos de judeus, os sefaradim (originados na Europa Ocidental, como Portugal e Espanha) e os ashkennazim (do leste europeu, como Polônia e Ucrânia). Foi na Vila Mathias onde se concentrou a maior parte deles, principalmente na rua Júlio de Mesquita e imediações.
Vinham, em sua maioria, desprovidos de recursos financeiros, mas, assim que chegavam, por se dedicarem ao pequeno comércio, progrediam, pois dispunham de boa cultura, não necessariamente de escolaridade.
Mas não somente foram as crises vividas na Europa daquela época que trouxeram os israelitas, pois alguns judeus envolvidos com o tráfico de moças brancas, dando continuação a essa atividade ilegal, já desenvolvida na Europa Oriental, o que também não deixou de ser uma fuga de problemas sócio-econômicos.
Segundo professora Evania Martins Alves, autora do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) do curso de História da Unisantos sobre o Cemitério Israelita de Cubatão, existia uma organização mafiosa chamada Zwi Migda (fundada na Polônia em 1904, com sede em Buenos Aires) responsável pelo tráfico de moças brancas do Leste europeu para o mercado de prostituição da América.
Posteriormente, houve uma cisão entre os cáftens (origem da palavra cafetão) e passou a existir outra máfia, a Asquenasum, que passou a reunir os judeus russos e romenos; a Migdal ficou mais com os poloneses.
De acordo com Evania, a operação partia de Varsóvia, capital da Polônia e eram os próprios judeus que controlavam o tráfico; na maioria, judeus poloneses, fato delicado na História e que incomoda algumas pessoas, porque todos professavam o judaísmo: traficantes e traficadas.
A existência dessas moças denominadas polacas não se apagou da memória dos moradores mais antigos de Santos e Cubatão que conhecem essa história. Aspolacas eram prostitutas, em sua maioria, loiras do leste europeu, que professavam o judaísmo. A própria palavra polaca ficou estigmatizada em algumas cidades do litoral brasileiro com a conotação de meretriz e coisas sofisticadas, pela atividade que desenvolviam e por andarem bem vestidas. Usavam roupas finas e discretas, bijuterias italianas (imitação de ouro) e andavam perfumadas.
Segundo o estudo da professora, as mulheres eram enganadas com a promessa de casamentos, pois os aliciadores disfarçados de comerciantes endinheirados vindos da América chegavam nas famílias, principalmente do interior, e alegavam que estavam em busca de uma esposa de mesma origem e religião.
As moças desembarcavam sem saber que seriam submetidas à prostituição. Algumas, realmente, casaram-se, enganadas, com os cáftens, sem saber quem eram eles; outras recebiam propostas para casar na América e, no navio, encontravam, algumas vezes, a verdadeira mulher do explorador. Quando ocorria o casamento, o marido explorava a esposa e outras moças que caíam na mesma armadilha. Sem dinheiro, sem falar a língua portuguesa, com os documentos presos pelos cáftens, sem parentes, tendo perdido a virgindade e sem ter a quem recorrer, eram forçadas a se prostituírem.
De extrema importância seria poder penetrar no submundo dos polacos e tentar entender seu envolvimento com a vida nos bordéis e a questão de explorarem moças da mesma origem, provavelmente por ser mais fácil o relacionamento entre pessoas de mesma procedência. Essa época foi marcada por uma intensa perseguição aos judeus do Leste europeu, o que não justifica toda a prática dos gigolôs. Porém era uma forma de ganhar dinheiro e não ser discriminado perante a sociedade européia, criando seu negócio num mundo distante e à parte, no Brasil.
Para não serem discriminadas, as polacas criaram seu próprio mundo. Surgiram, então, duas entidades: a Associação Beneficente Israelita de Santos e a Associação Feminina Israelita de Santos. A última funcionava, nas décadas de 1950 e 1960, na Rua Amador Bueno, 322. É provável que as duas associações tenham se fundido em uma só quando as mulheres tomaram a frente dos negócios. Até a década de 60, a instituição existiu e preocupou-se com a conservação do Cemitério Israelita de Cubatão.
Por ser uma sociedade conservadora, os judeus ignoravam de certo modo essas pessoas, muitos deles até hoje ignoram o fato, pois alguns descendentes têm residência e uma vida em nossa sociedade e preferem ignorar o fato das polacas de santos.
Como nessa época Cubatão era distrito de Santos e com uma população pequena, o episódio das polacas e dos polacos foi mais escondida na sociedade santista para preservar a imagem da comunidade judaica em Santos, pois a questão não era racial e sim social.
De acordo com Evania, na época acreditou-se que algumas das pessoas que estão sepultadas no Cemitério Israelita de Cubatão estivessem envolvidas com a questão da prostituição. Mas os judeus que levavam vida comum não gostavam de misturar-se aos cáftens e suas prostitutas.
Aqueles que não viviam desse tipo de comércio preferiam freqüentar outros ambientes e com isso havia distância entre os dois grupos, sinagogas e cemitérios eram distintos para cada um.
Segundo a professora, no judaísmo existem muitas tradições, entre elas diz que pessoas envolvidas com o meretrício e as suicidas deveriam ser sepultadas ao lado do muro.
Por esses motivos viu-se a necessidade da transferência do Campo Santo datado de 1919, foi transferido para Cubatão em 1930, ficando assim os dois cemitérios – o dos israelitas e o dos cubatenses – lado a lado.
Com fundamento em pesquisas e história oral, Evania acredita que o Cemitério Israelita de Santos teria vindo transferido do Cemitério do Paquetá, uma área nobre da cidade da época, por isso considerada inadequada para sepultamento daspolacas.
Cemitério nos anos 60 
Com a instalação da Refinaria Presidente Bernardes na cidade, local onde abrigava o antigo cemitério da cidade, houve a transferência dos dois cemitérios para o atual endereço, onde era o antigo Sítio Cafezal. O Cemitério Israelita está dentro do Cemitério Municipal de Cubatão, na Rua José Vicente, em uma ala separada.
Segundo a pesquisa da professora o último enterro realizado no cemitério foi em 1967, pois esta foi a última data encontrada numa lápide solta de uma antiga campa. Porém, a última data de enterro constatada pela professora nas sepulturas é 1966. Os registros são poucos para esclarecer as dúvidas.
O "campo-santo" de Cubatão fica em um espaço separado, dentro do Cemitério Municipal. Possui 800 metros quadrados e 75 sepulturas feitas em granito (55 de mulheres e 20 de homens), sendo que a lápide mais antiga data de 1924 e a mais recente é de 1966. Vários representantes da Chevra Kadisha, Associação que administra o local, demonstrando a própria importância financeira deles dentro da Associação Beneficente Israelita.
Outro destaque de Evania é sobre a raridade sobre os casos de pessoas com os mesmos sobrenomes, portanto, não foi possível relacionar parentescos. O casal Rubim por exemplo, apresenta características diferentes – pelas inscrições seriam esposos. Os homens, em sua maioria, tiveram esposas e filhos. Sabemos que algumas mulheres casaram-se, tiveram filhos, outras tiveram filhos sem se casar; e ainda outras deixaram apenas lembranças de companheiras e amigas ou aindaúltima amiga da Associação Feminina Israelita de Santos.
Pessoas da comunidade israelita de Santos dizem não conhecer o episódio daspolacas, muito menos o cemitério, e alegam que os judeus ali sepultados não têm mais parentes aqui no litoral. Já outras pessoas da comunidade confirmaram a presença das polacas.
Já um casal de São Paulo, e que prefere não ser identificado, faz visitas ao campo santo e cuida da limpeza de poucas campas, mas ao serem perguntado sobre o cemitério desconversam o motivo da visita e o episódio das polacas.
Dias Atuais (Foto: Rodrigo Fernandes)
No dia 25/08/2010, a prefeita Márcia Rosa(PT), assinou o decreto que validou o tombamento definitivo do cemitério. Isso só pode acontecer porque Conselho da Defesa do Patrimônio Cultural (Condepac), sempre lutou por esse reconhecimento.
O cemitério Israelita de Cubatão é o primeiro tombado definitivamente no Brasil, segundo Beatriz Kushnir, historiadora e Diretora do Arquivo Geral do Rio de janeiro, que também participou da solenidade. “O resgate da saga da imigração judaica e das pessoas que estão enterradas naquele local não têm preço”, afirmou emocionada. Há mais de 20 anos Beatriz está envolvida em pesquisas sobre cemitérios israelitas no país e a história de vida das chamadas “polacas”. Mulheres judias que no início do século XX fugiram para o Brasil durante o antissemitismo com a promessa de casamentos, mas acabaram sendo exploradas. E muitas delas foram enterradas neste cemitério judaico. 










Dia do Jornalista, o que comemorar?

Demissões e mais demissões. Veículos de comunicação sendo extintos. Ameaças e mortes. Ao decorrer dos últimos anos, a vida de quem lida com notícia não tem sido fácil, seja no Brasil ou em qualquer lugar do mundo. O profissional da área está cada vez mais sujeito a constar na lista de determinado passaralho, fazer parte de alguma redação que venha a ser dizimada por completo, ou, pior, ter o psicológico abalado por intimidações – sendo que algumas se transformam em assassinatos.
Com todos esses fatores, é até obvio afirmar que a profissão enfrenta um tempo nebuloso e sem previsão para voltar a ver o raiar do sol de forma clara. Por aqui, no Brasil, há ainda a questão da (in)justiça, com a dupla de assassinos do cinegrafista Santiago Andrade podendo caminhar pelas ruas do Rio de Janeiro um ano após o ocorrido e com um articulista sendo condenado por ter, segundo uma juíza de primeira instância, cometido o “crime” de comparar um prefeito incompetente ao personagem Odorico Paraguaçu. 

Os tempos atuais são estranhos e instáveis para o jornalismo e para as pessoas que nele atuam. Por isso, não há o que comemorar neste 7 de abril de 2015, Dia do Jornalista? Apesar dos pesares, há, sim, o que ser comemorado. Conquistas existiram graças à atuação da imprensa. Eis a luta pela redemocratização do país, momento em que o locutor Osmar Santos foi alçado a “Voz das Diretas”. Eis, também, a divulgação de denúncias, ou alguém já se esqueceu que o esquema do mensalão começou a ser desvendado graças a uma coluna assinada por Renata Lo Prete na Folha de S. Paulo? Ou de que um rapaz inocente foi liberado pela polícia de São Paulo somente após reportagem de Bruno Paes Manso no Estadão?
Osmar Santos, Renata Lo Prete e Bruno Paes Manso. Casos que mostram a importância da imprensa. O bom jornalismo que auxilia a construir novas histórias, que ajuda a dar fim à era da ditadura militar, que colabora para políticos corruptos serem punidos e faz com que injustiças sejam desfeitas pelo Estado. Os exemplos do trio de comunicadores servem para registrar que os tempos mudam, mas o trabalho de qualidade da mídia terá vez, a presença de bons profissionais será sempre primordial, independentemente do meio de produção, do veículo de comunicação em questão. Precisamos, ao menos, acreditar nisso.
Nesse sentido, Bruno Paes Manso pode ser citado em outro exemplo. Em 2014, o jornalista deixou o Grupo Estado, onde mantinha um blog no site do Estadão e, ao lado de colegas, deu início ao projeto Ponte Jornalismo, focado em temas de segurança pública. É a fase do jornalismo colaborativo e de comunicadores-empreendedores. O profissional sai de uma grande redação e cria com outros seus próprios veículos de comunicação. A esse formato, soma-se o portal Jota, também lançado no ano passado e que se dedicada à cobertura de assuntos relacionados ao poder Judiciário, sendo conduzido por Felipe Recondo (ex-Estadão), Laura Diniz (ex-Veja), Bárbara Pombo (ex-Valor Econômico), Iuri Dantas (ex-Estadão) e Felipe Seligman (ex-Folha).
Para ficarmos em dois bons e recentes exemplos, Ponte e Jota mostram que há um caminho a ser adotado por jornalistas. Os dois sites representam, talvez, o futuro da imprensa, com cada vez mais veículos especializados – sendo administrados diretamente por um grupo de jornalistas. Demonstram que a união entre colegas pode reverter determinadas situações, como a atual escassez de campo de trabalho. Por isso, é importante ressaltar que há o que comemorarmos no Dia do Jornalista. Basta bons profissionais trabalharem em conjunto.

segunda-feira, 6 de abril de 2015

Um bairro pequeno, mas grandioso na história de Cubatão

Depois de mais de três anos sem escrever, resolvi resgatar alguns textos antigos que já tinha escrito em outro blog. Mas também vou escrever sobre atualidades. entre muitos textos que escrevi, decidi inaugurar este blog com um texto sobre a Vila Pelicas. Espero que gostem!!!
Um bairro pequeno, porém com muita história para contar e relembrar. Esta é a Vila Pelicas. Povoado desde a década de 30, no século passado, este pequeno bairro começou em 1843, onde uma senhora com cinco filhos tinha uma casa de madeira peroba e por causa da Guerra do Paraguai seus filhos tiveram que abandoná-la. José Patinho, que veio de Portugal, da cidade de Aveiros em 1903 e levou aproximadamente 400 dias para chegar em terras brasileiras com esposa e filhos, estavam acostumados à pesca do bacalhau e chegando por aqui não demoraram a exercer a profissão e a se especializar na pesca principalmente de camarões.
Ao chegar na então Vila de Cubatão (na época Cubatão era um distrito de Santos), Patinho procurou um terreno para construir seu lar e escolheu o local atualmente localizado à Via Anchieta e à Avenida Dr. Tancredo de Almeida Neves, à margem do Rio Casqueiro, ocupando uma área de 1,2 hectares, mas foi em 1918 que nasceu um dos moradores mais antigos vivos da cidade. O pescador Manoel Pelicas, 91, é o patriarca do bairro. Por causa deste homem de estatura baixa, o nome ‘Vila Pelicas’ foi dado na década de 80, justamente em homenagem à família que fundou o bairro.
Seu Pelicas lembrou que teve uma infância bem sadia. Nadava, corria e brincava muito. Ele estudava na escola Barnabé, localizada na Avenida São Francisco, no centro de Santos. Segundo o pescador, ele andava aproximadamente oito quilometros todos os dias para ir e voltar da escola. “Naquele tempo não existia transporte. Tínhamos que andar para poder estudar”.
De acordo com Pelicas, para fazer compras, a família tinha que ir de canoa para as localidades mais longes, e mesmo assim dependendo do lugar ainda tinha que andar de carroça. “Era o caso quando se ia para o Vale do Ribeira. A gente ia de barco até Peruíbe e depois tinha que pegar uma carroça até chegar em Pedro de Toledo e região. Nossa família buscava água potável no Rio Branco, situado na Área Continental de São Vicente, pois era lá onde havia uma nascente com água cristalina e fresca”.
Naquela época tinha muita fartura. Existiam muitos peixes e camarões, porém o preço do pescado era muito baixo. Segundo Pelicas, para conseguir um pouco de dinheiro tinha que vender muito peixe, mas mesmo assim não passava necessidades, pois naquele momento vivia-se muito de permutas. Foi graças a isso que seus pais criaram quatro filhos. “Minha mãe fazia todos os dias arroz, feijão, carne seca, muita banana assada e claro, peixes”.
Seu Pelicas: História viva do bairro
Com 13 anos ele começou a pescar e se especializou na pesca de camarões, sendo considerado o melhor pescador em uma época que a região tinha aproximadamente três mil pescadores. E só parou de pescar há um ano e meio. “Vivi toda minha vida para a pesca e me iludi com ela, mas não me arrependo de nada”.
De acordo com Pelicas, quando seu avô chegou ofereceram a ele uma área que hoje está o Jardim Casqueiro, mas por causa da geografia do local, ele escolheu a Vila Pelicas, já que não oferecia boas condições para a pesca, porque o local tinha muita lama. “Se eu fosse ganancioso, o Casqueiro era meu”, lembrando que ele poderia ter virado dono de terra, pois na época não existiam casas no bairro.
Revirando o passado, Seu Pelicas ainda lembrou que a família recebeu muitas propostas para vender o local, mas nunca quiseram sair dali, mesmo recebendo muitas propostas boas e rentáveis, que lhe permitia mudar de vida e buscar outras opções para se sustentar. Hoje a comunidade abriga mais de 20 casas com cerca de 60 moradores, em sua grande maioria habitada pela família Pelicas. Existe também um pequeno estaleiro, além de promoções de passeios educativos e pesca recreativa.
Com casas que chegam há um século de construção, o bairro além de ser totalmente familiar é uma viagem pelo tempo. Ainda se vê moradores deitados em suas redes debaixo de árvores; os mais antigos continuam pescando; e claro, Seu Pelicas continua contando suas histórias que fogem do ditado popular, onde se diz “que toda história de pescador é mentirosa”.