segunda-feira, 6 de abril de 2015

Um bairro pequeno, mas grandioso na história de Cubatão

Depois de mais de três anos sem escrever, resolvi resgatar alguns textos antigos que já tinha escrito em outro blog. Mas também vou escrever sobre atualidades. entre muitos textos que escrevi, decidi inaugurar este blog com um texto sobre a Vila Pelicas. Espero que gostem!!!
Um bairro pequeno, porém com muita história para contar e relembrar. Esta é a Vila Pelicas. Povoado desde a década de 30, no século passado, este pequeno bairro começou em 1843, onde uma senhora com cinco filhos tinha uma casa de madeira peroba e por causa da Guerra do Paraguai seus filhos tiveram que abandoná-la. José Patinho, que veio de Portugal, da cidade de Aveiros em 1903 e levou aproximadamente 400 dias para chegar em terras brasileiras com esposa e filhos, estavam acostumados à pesca do bacalhau e chegando por aqui não demoraram a exercer a profissão e a se especializar na pesca principalmente de camarões.
Ao chegar na então Vila de Cubatão (na época Cubatão era um distrito de Santos), Patinho procurou um terreno para construir seu lar e escolheu o local atualmente localizado à Via Anchieta e à Avenida Dr. Tancredo de Almeida Neves, à margem do Rio Casqueiro, ocupando uma área de 1,2 hectares, mas foi em 1918 que nasceu um dos moradores mais antigos vivos da cidade. O pescador Manoel Pelicas, 91, é o patriarca do bairro. Por causa deste homem de estatura baixa, o nome ‘Vila Pelicas’ foi dado na década de 80, justamente em homenagem à família que fundou o bairro.
Seu Pelicas lembrou que teve uma infância bem sadia. Nadava, corria e brincava muito. Ele estudava na escola Barnabé, localizada na Avenida São Francisco, no centro de Santos. Segundo o pescador, ele andava aproximadamente oito quilometros todos os dias para ir e voltar da escola. “Naquele tempo não existia transporte. Tínhamos que andar para poder estudar”.
De acordo com Pelicas, para fazer compras, a família tinha que ir de canoa para as localidades mais longes, e mesmo assim dependendo do lugar ainda tinha que andar de carroça. “Era o caso quando se ia para o Vale do Ribeira. A gente ia de barco até Peruíbe e depois tinha que pegar uma carroça até chegar em Pedro de Toledo e região. Nossa família buscava água potável no Rio Branco, situado na Área Continental de São Vicente, pois era lá onde havia uma nascente com água cristalina e fresca”.
Naquela época tinha muita fartura. Existiam muitos peixes e camarões, porém o preço do pescado era muito baixo. Segundo Pelicas, para conseguir um pouco de dinheiro tinha que vender muito peixe, mas mesmo assim não passava necessidades, pois naquele momento vivia-se muito de permutas. Foi graças a isso que seus pais criaram quatro filhos. “Minha mãe fazia todos os dias arroz, feijão, carne seca, muita banana assada e claro, peixes”.
Seu Pelicas: História viva do bairro
Com 13 anos ele começou a pescar e se especializou na pesca de camarões, sendo considerado o melhor pescador em uma época que a região tinha aproximadamente três mil pescadores. E só parou de pescar há um ano e meio. “Vivi toda minha vida para a pesca e me iludi com ela, mas não me arrependo de nada”.
De acordo com Pelicas, quando seu avô chegou ofereceram a ele uma área que hoje está o Jardim Casqueiro, mas por causa da geografia do local, ele escolheu a Vila Pelicas, já que não oferecia boas condições para a pesca, porque o local tinha muita lama. “Se eu fosse ganancioso, o Casqueiro era meu”, lembrando que ele poderia ter virado dono de terra, pois na época não existiam casas no bairro.
Revirando o passado, Seu Pelicas ainda lembrou que a família recebeu muitas propostas para vender o local, mas nunca quiseram sair dali, mesmo recebendo muitas propostas boas e rentáveis, que lhe permitia mudar de vida e buscar outras opções para se sustentar. Hoje a comunidade abriga mais de 20 casas com cerca de 60 moradores, em sua grande maioria habitada pela família Pelicas. Existe também um pequeno estaleiro, além de promoções de passeios educativos e pesca recreativa.
Com casas que chegam há um século de construção, o bairro além de ser totalmente familiar é uma viagem pelo tempo. Ainda se vê moradores deitados em suas redes debaixo de árvores; os mais antigos continuam pescando; e claro, Seu Pelicas continua contando suas histórias que fogem do ditado popular, onde se diz “que toda história de pescador é mentirosa”.

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