terça-feira, 7 de abril de 2015

Dia do Jornalista, o que comemorar?

Demissões e mais demissões. Veículos de comunicação sendo extintos. Ameaças e mortes. Ao decorrer dos últimos anos, a vida de quem lida com notícia não tem sido fácil, seja no Brasil ou em qualquer lugar do mundo. O profissional da área está cada vez mais sujeito a constar na lista de determinado passaralho, fazer parte de alguma redação que venha a ser dizimada por completo, ou, pior, ter o psicológico abalado por intimidações – sendo que algumas se transformam em assassinatos.
Com todos esses fatores, é até obvio afirmar que a profissão enfrenta um tempo nebuloso e sem previsão para voltar a ver o raiar do sol de forma clara. Por aqui, no Brasil, há ainda a questão da (in)justiça, com a dupla de assassinos do cinegrafista Santiago Andrade podendo caminhar pelas ruas do Rio de Janeiro um ano após o ocorrido e com um articulista sendo condenado por ter, segundo uma juíza de primeira instância, cometido o “crime” de comparar um prefeito incompetente ao personagem Odorico Paraguaçu. 

Os tempos atuais são estranhos e instáveis para o jornalismo e para as pessoas que nele atuam. Por isso, não há o que comemorar neste 7 de abril de 2015, Dia do Jornalista? Apesar dos pesares, há, sim, o que ser comemorado. Conquistas existiram graças à atuação da imprensa. Eis a luta pela redemocratização do país, momento em que o locutor Osmar Santos foi alçado a “Voz das Diretas”. Eis, também, a divulgação de denúncias, ou alguém já se esqueceu que o esquema do mensalão começou a ser desvendado graças a uma coluna assinada por Renata Lo Prete na Folha de S. Paulo? Ou de que um rapaz inocente foi liberado pela polícia de São Paulo somente após reportagem de Bruno Paes Manso no Estadão?
Osmar Santos, Renata Lo Prete e Bruno Paes Manso. Casos que mostram a importância da imprensa. O bom jornalismo que auxilia a construir novas histórias, que ajuda a dar fim à era da ditadura militar, que colabora para políticos corruptos serem punidos e faz com que injustiças sejam desfeitas pelo Estado. Os exemplos do trio de comunicadores servem para registrar que os tempos mudam, mas o trabalho de qualidade da mídia terá vez, a presença de bons profissionais será sempre primordial, independentemente do meio de produção, do veículo de comunicação em questão. Precisamos, ao menos, acreditar nisso.
Nesse sentido, Bruno Paes Manso pode ser citado em outro exemplo. Em 2014, o jornalista deixou o Grupo Estado, onde mantinha um blog no site do Estadão e, ao lado de colegas, deu início ao projeto Ponte Jornalismo, focado em temas de segurança pública. É a fase do jornalismo colaborativo e de comunicadores-empreendedores. O profissional sai de uma grande redação e cria com outros seus próprios veículos de comunicação. A esse formato, soma-se o portal Jota, também lançado no ano passado e que se dedicada à cobertura de assuntos relacionados ao poder Judiciário, sendo conduzido por Felipe Recondo (ex-Estadão), Laura Diniz (ex-Veja), Bárbara Pombo (ex-Valor Econômico), Iuri Dantas (ex-Estadão) e Felipe Seligman (ex-Folha).
Para ficarmos em dois bons e recentes exemplos, Ponte e Jota mostram que há um caminho a ser adotado por jornalistas. Os dois sites representam, talvez, o futuro da imprensa, com cada vez mais veículos especializados – sendo administrados diretamente por um grupo de jornalistas. Demonstram que a união entre colegas pode reverter determinadas situações, como a atual escassez de campo de trabalho. Por isso, é importante ressaltar que há o que comemorarmos no Dia do Jornalista. Basta bons profissionais trabalharem em conjunto.

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